sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Donzela e o Ceifador

Há quase seis anos atrás, um amigo me enviou um presente de aniversário, um belíssimo conto conto chamado a donzela e o ceifador. Uma pequena 'cronica', sobre nós, talvez como nossa amizade, de possibilidades, ao ver dele.
O conto veio enraizado de uma de nossas conversas... Eu lembro bem de certos detalhes.
Sua inspiração veio como um suspiro, e adicionando elementos do real e fantasia. Lindo.
Como muitas de suas obras, se não, todas elas.

Mas o desenrolar da história, era a nossa amizade, nossa história.
Nutridas pela distância, pelo carinho.

E acabou junto com a esperança que um de nós alimentava.

Já disse que ia te dar um presente... um conto.
Talvez eu devesse terminá-lo, aos meus olhos, com fragmentos da alma, memórias...
E com um pouco de 'amor' também. 


Espero que goste. 
Com carinho e saudades.

...

Depois de muito tempo vaguear pelo bosque, ela sentou. Observando o horizonte com indiferença.
O vestido fino e branco não a protegia do frio do outono, os seus cabelos negros não impediam do vento tocar-lhe a face.
Ela sentia o vento acariciar-lhe o rosto, afagar seus cabelos e tocar seus ombros a mostra.
O ceifador estava aproximando-se. Ela podia ouvir a túnica comprida arrastar as folhas já sem vida.

O que você quer? Ela disse. Já levou minha alma, levou meus sentimentos.. Não tem motivos para me importunar.
O ceifador nada disse. O tom de voz da moça era neutro...
Vazio ...

Foi o que ela se tornou ...

Fazia muitos anos que sua alma fora roubada.
Há anos não cantava,escrevia ou sequer pintava... Foi se limitando a agir e começando a definhar.
Não havia mais lugar para seus singelos prazeres. Seu mundo perdera a cor, e dessa vez, não poderia colorí-lo.

É como roubasse o brilho das estrelas. Pensava o ceifador, o céu perde toda a sua serenidade.
A alma estava em suas mãos.
Aquela luz escarlate retirada do peito da moça fazia-o sentir bem.
Ele sentia o calor e prometeu que ia cuidar bem dela, por isso deixou em seu próprio peito, protegido e acolhido.

Mes após mes, a alma foi perdendo o seu brilho.
Aquela luz já não o satisfazia.
Por muitos longos períodos ele se recolhia não muito longe do bosque. Sentava-se no tronco de uma arvore robusta que tombara ao longo do tempo.
Deveria pensar em algo, e logo. Por mais doloroso que fosse, deveria tomar sua decisão.
E foi feita.


"Não tem motivos para me importunar..."Ele estava diante dela agora.Ela levantou, tentando encarar o rosto que se escondia através do capuz
Com os dedos cadavéricos, retirou o pequeno vestígio de luz de seu peito e ao aproximá-lo do devido dono, brilhou com pouco mais de intensidade. Pulsante. Tão fraco, porém tão intenso para ela agora, que fechou os olhos para receber tal luz.
Ao abrir os olhos, ele já não estava mais lá.

Obrigada. Ela sussurrou, e sabia que seu recado seria dado pelo vento.

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